quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ENOUGH IS ENOUGH!

Com todas estas histórias que eu vou ouvindo, de mães que perdem os filhos por nenhuma razão e de outras que são acusadas de os maltratar ou manipular, eu, que me encontro metida nesta enorme engrenhagem, pois que me encontro privada de uma filha, acabo por ter atitudes meio irracionais com a mais nova. Tudo porque vivo em pânico, com medo de perder também esta.

Um destes dias, não vou precisar qual, a miúda resolveu fazer uma típica birra, coisa bem normal numa criança de 5 anos. Para mais que se encontra ainda em período de adaptação, pois que nos mudamos muito recentemente aqui para França.

Nesse dia eu não consegui acordar cedo, e acabei por não a levar à escola. Tinha passado a noite anterior quase em claro.

Ora eu tinha de entregar uns papéis sem falta, mas ela embirrou que não queria sair. Evidentemente, eu não a podia deixar sózinha em casa, pois o pai também tivera de sair. Com a máxima paciência que tive, expliquei-lhe isso. E ela nada. Começou a chorar, quase aos gritos. Supliquei-lhe que parasse, ou vinham bater-me à porta (sabe-se lá?). E ela nada. Foi pelas escadas abaixo a chorar.

Já na rua, continuava no mesmo. Passa uma senhora, e diz-lhe "ça va passer, le chagrin!", ao que eu respondi "c'est moi qui a le chagrin!". Virei-me para a miúda e fiz-lhe ver o que a cena podia parecer aos outros (irracional, eu sei, mas quem me pode condenar?).

Enfim, ela agarrou-se a mim, e parou de chorar. Uuuuffff!!!

Nos momentos seguintes, a coisa passou-se relativamente bem. Ela ainda se pôs no canto da paragem da urbana, meio amuada, e eu aproveitei para brincar com ela, pondo-me no outro canto, pretendendo estar também amuada.
Entramos na urbana, e tudo se passou bem.

Foi quando saímos e tivemos de andar um pouco (que nem era muito!), que ela voltou a fazer a birra. Expliquei-lhe que estávamos mesmo a chegar. E ela nada. Chorou. Agarrou-se aonde podia, recusando-se a avançar. Quando lhe ordenei que se mexesse, pôs-se a correr, fazendo-me correr atrás dela. Vai daí ela grita (felizmente não muito alto) "au secours!", e eu pergunto-lhe se quer que a polícia venha e me leve presa! Noutras circunstâncias, que não as minhas, e noutros tempos, que não os nossos, eu jamais diria isto.

Avanço uns passos, a ver se me segue, mas ela mantém-se no lugar, sempre a chorar. Volto para trás, e pergunto-lhe o que se passa afinal, para me fazer passar tanta vergonha na rua. Tento, na medida do possível, falar-lhe com calma. Consigo mesmo que ela pare de chorar e me acompanhe (o sítio onde eu tinha de ir era pouco mais à frente, vejam lá!). Mas, à entrada do portão, nova birra. Não quer entrar. Nem sei como a paciência não me chegou ao limite, tanto mais que nem me encontrava num bom dia, pois era um "daqueles" dias por que todas as mães -pergunto-me se também os pais, já que eles também ficam grávidos- passam. Consegui fazê-la entrar, mas enfiou-se debaixo de uma cadeira. Não lhe liguei. Achei que era o melhor a fazer naquele momento, tanto mais que só havia eu para atender, e não podia fazer esperar a pessoa.

Eu se vos conto isto, não é para que me digam se agi bem ou mal. Não sou perfeita, e sei que não estava num dia perfeito. "Nesses dias não me aturo nem a mim própria", dizia-me uma sobrinha. Tirou-me as palavras da boca, e sei que outras mães (pais também?!) sabem bem do que falo.

Eu se digo isto, é porque, nos tempos que correm, uma mãe não se pode permitir a mínima falta. Mesmo quando age bem, está em falta.

Nos dias que correm, vivemos no medo permanente de que nos aconteça o que acontece a muitas outras mães, e, se porventura já nos aconteceu, que nos aconteça uma segunda vez. Que é o meu caso.

Lembro-me de há algum tempo ter lido sobre um caso, em que o pai referia em tribunal que a mãe (sua ex) não tinha paciência para os filhos. Pergunto-me como seria a vida desta mãe, e se essa falta de paciência se manifestava todos os dias, ou pontualmente, quiçá "naqueles" dias. Quero dizer, com isto, que qualquer manifestação de falta de paciência por parte da mãe (como se fosse suposto ela estar SEMPRE cheia de paciência, e ter SEMPRE para com os filhos uma atitude exemplar), pode, mais tarde, ser usada em proveito do pai. Não me admirava nada que muitos tivessem ganho a custódia dos filhos à conta da falta de paciência que acomete as mães, sobretudo nos "tais" dias.

Em relação à mais velha -que, como vos disse, não vive comigo- passa-se o mesmo. Enquanto ela está comigo, vejo-me na obrigação de ser a melhor mãe do mundo. Primeiro, porque tenho de provar que estou à altura, e, segundo, porque a mínima falta pode levar a que eu perca os poucos direitos que consegui reconquistar.

E se porventura ela um dia voltar a viver comigo (será o dia mais feliz da minha vida!), nada voltará a ser como antes. Sentir-me-ei sempre na obrigação de dar todas as provas e mais algumas de que não sou uma má mãe. Ela terá de ser uma aluna exemplar, e NUNCA, em momento ALGUM, poderá ter o mínimo deslize.

Até quando esta perseguição insensata?!

Enough is enough.

RECUSO-ME A SER BARRIGA DE ALUGUER!!!!!!!!!!!!!


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