quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

SISSI E OS SEUS FILHOS

Ontem vi uma série, apresentada em duas partes, em que se contava a história de Isabel de Baviera, imperatriz consorte de Áustria e rainha consorte da Hungria, pelo seu casamento com Francisco José I.

Também aqui a história vem algo romanceada, muito à conta de todo o mito que se construiu à volta desta personagem.

Dizem alguns manuais que Sissi (como era carinhosamente tratada pelos seus, mas não na côrte) tinha uma faceta egocêntrica e narcísica. Era vaidosa e demasiado preocupada com o físico.

Por se interessar por si e por adorar as viagens, tinha pouco tempo para a maternidade e para os compromissos oficiais. Ignorou -assim o diz uma biografia- os 3 filhos mais velhos, tendo apenas dado atenção à sua filha caçula.

Porém, e tal vem retratado nesta série, a verdade terá sido outra.

Quando teve a sua primeira filha, em 1855, ela era ainda muito jovem. A sogra (que era sua tia materna) tomou para si o papel de a educar.

Esse era o protocolo.
Nunca uma imperatriz educara os seus próprios filhos.

A cena em que ela tem a criança nos braços e a vêm buscar para ser amamentada por uma ama é particularmente chocante. Sissi pergunta porque não a pode alimentar ela própria, e respondem-lhe que seria impróprio ser ela própria a fazê-lo.

O mesmo aconteceu com a segunda filha e com o filho varão, Rodolfo.

Sissi insurgiu-se, particularmente quando viu as práticas sádicas e cruéis a que o menino, ainda de muito tenra idade, era submetido na escola militar, para onde fora enviado.

Sissi conseguiu tirá-lo de lá, mas o menino já não era mais o mesmo. Havia aprendido que não podia chorar, e muito menos abraçar a mãe.

Há uma cena em que Francisco José lhe diz que também ele, no início, tivera medo, mas que depois isso passara. Sissi responde-lhe que aquilo que não era bom para ele também não era para o filho, e que uma criança assim tão pequena precisava da mãe.

A única que ela pôde criar da forma que sempre sonhou foi a sua última filha. Dizer que ela a preferiu aos outros não será muito certo.

Evidentemente, é natural que tenha tido uma relação mais próxima com esta filha do que aquela que teve com os outros filhos.
Mesmo ela dizia que estando assim separada deles corria o risco de um dia nem a reconhecerem. Foi um pouco o que aconteceu.

Eu acredito que as suas depressões constantes terão derivado, em boa parte, desta separação forçada dos filhos.

Porque, apesar dos hábitos culturais terem ditado comportamentos como este, em que uma criança era separada da mãe logo à nascença, isso não significa que essas mães fossem completamente desprovidas de instinto e de amor materno.

Isso explicará o porquê de umas quantas pacientes de Freud, oriundas da aristocracia e sujeitas a estes mesmos hábitos culturais, mulheres que não tiveram provavelmente uma relação próxima com a própria mãe, terem uma personalidade psicótica e histérica.

O que me leva, uma vez mais, a concluir que, uma vez que se façam certas afirmações, dever-se-á ter em conta o contexto e toda a vivência da época.

Para que não se façam afirmações gratuitas, tais como a de que o instinto maternal e o amor de uma mãe pelo filho nada tem de natural. Que foi a cultura que os instituiu.

Não terá sido, ao invés, a cultura a destituí-los?

RECUSO-ME A SER BARRIGA DE ALUGUER!!!!!!!!!!!!!


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