domingo, 21 de novembro de 2010

NO PRINCÍPIO ERA A MÃE. O PAI VEIO DEPOIS (PARTE II)

Trouxe-vos estes três casos, para que vejais a diferença entre os sentimentos que assaltam uma mãe e os que assaltam um pai.

PRIMEIRO CASO:

Sou uma mulher casada. Aliás, bem casada. Eu e meu marido nos amamos, respeitamos muito um ao outro.

O problema é comigo, doutor, e nada tem a ver com o casamento, embora meu sofrimento esteja afetando minha relação conjugal, principalmente no que diz respeito ao sexo. Coisa que não havia antes, porque sempre gostamos de fazer sexo um com o outro.

Há pouco mais de um ano, tivemos nosso primeiro e único filho. Menino bonito e saudável, muito comunicativo. Algo estranho vem acontecendo comigo, pois de quatro meses para cá, venho me distanciando de tudo, não sou mais a mesma na minha profissão, nos relacionamentos, e com meu marido que tanto amo. Uma espécie de frieza vem tomando conta de minha vida.

Comecei a ficar mal quando meu filho passou a gostar de outras coisas além de meus cuidados, como sair com a babá, aceitar bem ir para a creche, gostar de frequentar a pracinha com outras crianças, ou seja, coisas boas, saudáveis. Não sou doida, sei, do fundo do meu coração, que tudo isto é muito bom para ele, é o que se espera para filhos.

De início, comecei a me irritar, eu ficava com raiva, com ódio, porque eu via que ele já não necessitava mais de mim, e isto começou a me entristecer. Senti que fiquei sem lugar, perdida, que não tinha mais importância para ele. Tudo caiu por terra, vivo numa completa falta de ânimo, doutor.

Por vezes me ocorreu estar me sentindo traída por este filho que coloquei no mundo, e que amo tanto. O sentimento que não me sai da cabeça é que fui enganada.

Tenho vergonha de conversar com meu marido sobre os meus sentimentos, digo sempre que logo irá passar. Sempre fui uma mulher forte, enfrentava os problemas de frente. Agora, sinto-me desvitalizada, sem forças para continuar. É normal uma mãe pensar que foi enganada pelo filho que já não precisa mais tanto dela? Estou com medo de mim mesma. Obrigada.

Filhos bons e bacanas!

Como compreender que uma mãe sofra ao ver o filho dar os primeiros passos na vida rumo ao melhor? Uma mãe que se sente traída porque seu filho caminha em direção a uma vida que é a dele, que estabelece um movimento de independência, fundamental para todos desta família que se inicia? Isto é normal ou patológico? Nada disto, trata-se de uma questão ética!

Você deve conversar com seu marido. Fale com ele sobre o que está se passando, de seus sentimentos, de suas tristezas, de sua dor. Não esconda nada, tome-o com cúmplice, diga a ele sobre a seriedade da questão, pois você está se deprimindo e isto pode se agravar mais ainda.

Procure uma ajuda especializada, pois você precisa falar com alguém que a escute sobre as razões de seu sofrimento, em relação à separação de seu filho. Não minimize este fato. Dê crédito ao que você está sofrendo, fale a partir daí, que é de onde nasce uma verdade sobre o teu desejo. Diga-se, um desejo desencontrado que pede por uma leitura, para que você possa se libertar das amarras da tua dor. Depressão significa isto: que, por alguma razão que lhe é desconhecida, o sujeito não quer aquilo que deseja. Você não está conseguindo?

De todo modo, você se apresenta como uma mãe que se ressente quando vê, com seus próprios olhos, seu filho indo pra encontrar sua própria vida. Por alguma razão, ela não está podendo ver que este filho, ao se separar, carrega dentro de si algo desta mãe, alguma coisa que fala de um grande gesto de amor.

Observa-se que há crianças mais soltas, mais seguras de si. Outras, não, são frágeis, apresentam dificuldades frente à vida, permanecem dependentes, grudados em seus pais.

Qual é o fator determinante? O que possibilita o bom amadurecimento de uma criança, de um adolescente? O que é, então, necessário para que filhos se soltem, se desgarrem e se tornem independentes? Que pais possam provocar uma separação necessária em relação a seus filhos. É o que se espera.

Um filho, uma filha, avança na vida se realmente os pais conseguem tombar do lugar de pais idealizados. Isto tem um nome, e é o que decide o futuro de cada filho, para o melhor ou para o pior: luto! Ou seja, pais podendo faltar nas relações com seus filhos, mesmo estando presentes.

Pais devem saber tombar deste lugar de pais idealizados para os filhos. Há que se construir o luto dos filhos, da infância, tão querida, tão amada – e isso está para pais e filhos - para que filhos venham, por sua vez, a construir o luto destes pais. Vale dizer, o luto é uma separação, uma boa separação, uma separação que não deve ser contaminada nem de remorso, nem de abandono, nem de desesperança!
Para que um filho ou uma filha alcance uma vida mais saudável, é preciso que se estabeleça uma separação que não seja conturbada, ressentida. O tombamento dos pais cauciona uma liberdade dos filhos. Por isso mesmo é preciso se separar dos pais, que cresçam, e que tenham espaço no sentido de alçarem seus próprios voos. É a confiança dos pais que inaugura a liberdade de ir e vir dos filhos.

Muitas vezes, há dúvidas: mas, será que pais querem verdadeiramente filhos soltos, ou os querem sob suas asas, como se fossem crias inseparáveis de si mesmos? A atualidade tem mostrado que, mais e mais, pais têm dificuldades de se separarem de filhos.

Na experiência analítica, observa-se que mães carregam sentimentos de traição em relação ao filho que começa ter sua vida própria. Isto é razoável, porque durante algum tempo um filho habita o mais íntimo de seu ser, mora dentro dela, respira suas entranhas. Portanto, são fantasias legítimas, fantasias de mãe.

Pode acontecer que estes pensamentos não venham à tona, não são pensados, verbalizados, colocados em palavras, mas sim agidos, atuados pela mãe. Nestas situações, filhos pagam a conta, carregam em suas cabeças distúrbios que são vividos como sentimentos de culpa, que vigem por debaixo das supostas dependências afetivas, drogas, cigarros, bebidas. “Ora, meu Deus, mas eu coloquei este filho no mundo e agora ele não necessita mais de mim? Não posso acreditar, ele era eu mesma, tornando-se um pedaço de mim, em mim mesma, eu o carreguei dentro de mim, fazendo parte de meu corpo, nutrindo-o de mim, do mais íntimo de meu ser”. Não é, no mínimo, estranho e paradoxal?

Sentimentos de pai, não são os mesmos que aqueles de mãe. Pai se protege muito mais das dores de uma separação. Mãe, não! Mãe é um constante vulcão em atividade. Uma mãe carrega seu fogo ardente, numa constante ebulição. Por isto mesmo, somente uma mãe, pode sentir sentimentos tão paradoxais quanto os seus, sentir-se traída pelo próprio filho!

Você, como a maioria das mães, quer um filho feliz, solto, desprendido. Uma mãe sempre quer o bem de seu filho. Mas, então, que diabo de sentimento é este que caminha no sentido oposto, diverso, contrariando todas as expectativas de um bom senso materno? Ficar triste, justo porque seu filho vai para a vida, cheio de confiança e alegria de viver! Ah! Mas que coisa, meu Deus, como a cabeça humana é feita de nós que dificultam qualquer entendimento racional! Mas este movimento de um progresso de seu filho implica que haja, realmente, numa boa separação, uma separação que é necessária para que a criança se constitua como sujeito, que tenha um futuro saudável. O problema é que, por alguma razão da sua história, você está interpretando o desprendimento de seu filho como um abandono, se fazendo abandonar. Traída!

O sentir-se traída, por si só fala de uma incongruência lógica, de uma quebra da razão reflexiva. O nascimento deste filho reacendeu um traço de sua infância, algo adormecido, que remete àquela menina que você teria sido no desejo de sua mãe, uma criança aprisionada ao desejo da mãe. Vale dizer, sua mãe não se separou de você, num certo sentido há uma fusão das duas, dentro de você mesma, em seu inconsciente. Aceitar de bom grado a separação de seu filho é poder trair o desejo desta mãe, que vive encarnado, em sua vida psíquica.

Tome este sofrimento como uma boa questão, tire ensinamentos dele, a partir dele, pois você tem o que falar sobre sua infância. Tudo está adormecido, esquecido, guardado carinhosamente, a sete chaves, no cofrinho de seus segredos de criança. A criança que te habita pede para falar, por isso seu sofrimento, sua mágoa, seu sentimento de tristeza, que leva você a sentir-se traída.

SEGUNDO CASO:

Estou perdido em relação à educação de meu filho. Sou casado há seis anos e temos um menino de 3 anos de idade que transformou minha vida num verdadeiro inferno. Sei que o problema não está nele, mas em mim. Ou nos dois, sei lá!

Conversei com alguns amigos, professores e especialistas sobre a minha questão com este filho e todos foram unânimes: isto é coisa de filho único. Eu e minha esposa decidimos ter somente um filho. Foi uma decisão consciente, bem pensada, muito discutida. Somos médicos e trabalhamos muito. Somos muito bem realizados profissionalmente.

Dirijo-me a você para pedir ajuda. Não consigo agir como pai, o pai que eu imaginava ser para meu filho. Estou sem rumo, sem saber o que fazer. Sei que violência não adianta, jamais faria isso. Vivo tenso, nervoso, irritado e sem paciência com meu filho. Não consigo funcionar como autoridade junto a ele. Meto os pés pelas mãos, me atrapalho todo, acabo cedendo. Para ser sincero, estou sem saber como me posicionar: este filho não me obedece, vai contra tudo que eu digo, e agora deu para me peitar. A coisa chega a tal ponto que nós dois parecemos dois irmãos!

Sinto-me envergonhado de dizer, mas observo que a cada dia eu vou ficando sem lugar dentro de casa. Ele tem ocupado cada vez mais o meu território, vou ficando de fora, até mesmo com minha esposa.

Veja a que ponto as coisas chegaram: sou flamenguista doente, toda minha família torce para o Flamengo, isso faz parte da mim história e vem de algumas gerações. Para me sacanear, recentemente ele deu para torcer para o Botafogo, que é o time do meu sogro, meus cunhados, ou seja, do lado da família materna. Eu sei que é para me tirar do sério, bater de frente comigo. O que fazer?

Aprendi que não devo intervir, que devo deixá-lo à vontade nas suas escolhas.

Mesmo antes de ele nascer, eu já me preocupava: como iria agir, como me comportar, como dar bons exemplos? Lia livros que procuram explicar como ser um bom pai. Frequentei cursos e palestras sobre como educar filhos e de nada adiantou. A ênfase estava colocada na importância de colocar limites. Mas, é justamente o que não consigo fazer, pois fico com pena dele. Tudo soa como algo frouxo! Sempre fui um bom filho: obediente, cumpria minhas obrigações, estudava até demais e respeitava os limites. A voz do meu pai era lei para todos dentro de casa. Bastava um olhar e lá estava eu obedecendo o que era determinado por ele e por minha mãe. Parece que não tenho voz dentro de casa.

Meu filho agora deu para dizer que está com medo à noite e não consegue dormir sozinho em seu quarto. Com isso, ele se enfia na nossa cama e dorme no meio do casal. Eu e minha mulher não temos mais intimidade alguma. Procuro de todas as maneiras seguir à risca o que seria um bom pai. Dou amor e carinho até demais, faço tudo que ele me pede, mas não consigo colocar ordem, limites, ou seja, não consigo ser pai. Nunca bati no meu filho, embora sentisse vontade de dar uns cascudos nele. No início eu contava até dez para não bater. Agora já estou contando até cinquenta. Tornei-me dependente de seus caprichos e de suas tiranias. O que fazer?

César Augusto Pontual

Como ser um bom pai?

Uma história interessante, no mínimo fenomenal, pois retrata com o máximo de fidelidade o que se passa nos bastidores de uma família. Vejam como estamos em relação aos nossos filhos: somos verdadeiros reféns de seus caprichos pelo viés da culpa. Meu Deus!
Quando um pai adormece e não ocupa efetivamente seu lugar de lei, o filho toma conta do seu território, fazendo casal com a mãe. Uma luta de prestígio, de vida e de morte? Uma verdadeira disputa em torno de um mesmo objeto: a mãe.

Meu caro, nunca queira ser um bom pai para seu filho. Aliás, nunca queira ser o pai. Simplesmente deixa-te ser o pai que você é, o pai que você pode ser em sua autenticidade, nada mais que isto! Ocupe este lugar que lhe é oferecido pela mulher que está na origem desta criança. Isso não é pouco, isso não é fácil. Corra, ande logo, porque senão seu filho chegará primeiro. Ah, seu capetinha infernal! Eu te coloquei no mundo, te dei tudo e agora você quer tomar a única coisa que me restaria? É isso mesmo, apresse-se e ocupe seu lugar, o lugar que é o seu, porque senão nada lhe sobrará. De todo modo, cabe perguntar: qual é o teu desejo?

Mas será que você deseja mesmo ocupar o lugar de pai? Há, em seu querer, algo falho, algo dividido. Será que você quer mesmo funcionar como pai? Acredito que a coisa chegou onde chegou porque você é esse menino que quer a mãe como única e para mais ninguém. Uma criança que permaneceu em instância no seu inconsciente com a qual você se compraz e se delicia através de seu filho. Você o usa para preservar um gozo materno que seu próprio pai não deu conta em relação à senhora sua mãe. Vamos ver, vamos seguir.

A doutrina psicanalítica propõe a seguinte equação: é a mãe quem funda o pai, é quem dá as primeiras cartas no sentido de transmitir ou não a palavra do pai, como efeito de lei. Isto não é gratuito, tem um custo altíssimo, é caro demais, tanto para a mãe quanto para a criança. Para alguém ocupar este lugar de pai, ele mesmo deve portar alguns atributos ou insígnias que são necessárias para tal empreitada. De todo modo, há uma dignidade em jogo que sinaliza um desejo particular. O lugar a ser ocupado por um pai está ali, vazio, ele poderá ou não ocupá-lo a partir de uma diretriz que escreve a particularidade de um desejo.

É possível, sim ou não, ensinar alguém a ser um bom pai? É difícil acreditar que existam escolas ou até mesmo profissionais que possam dizer o que se deve fazer para ser um bom pai. Conselhos, normas, regras: faça isto, não faça aquilo, seja tolerante, converse muito com seu filho, procure sempre o diálogo, preocupe-se, não lhe deixe faltar nada. Ora, tudo isto de nada adiantará! Tudo isto e nada é a mesma coisa! A experiência demonstra que ocupar o lugar de pai não passa por uma presença de bons comportamentos, de bons exemplos, de querer ser isto ou aquilo para o bem do filho.

Meu caro pai perdido numa paternidade, eu o elogio pela sua coragem e pela sua transparência ao se colocar tão abertamente em suas faltas, em suas carências de pai. Não é o que se observa. Hoje, mais do que nunca, os pais estão se ocupando mais com seus filhos. Eles têm se preocupado até mesmo excessivamente com seus rebentos, fazendo demais, sufocando-os, pecando por seus excessos. Parece que não estão permitindo que filhos possam desejar, que possam dizer o que desejam ou não desejam. Temos, na atualidade, uma safra de pais excessivos, dependentes de seus filhos. Neste sentido, algo fica esquecido, eles se esquecem como homem e mulher. O excessivo que está dirigido aos filhos é uma das maneiras do casal se esquivar sexualmente. Por baixo das nomeações pai e mãe, habita um homem e uma mulher que estão adormecidos, claudicantes, se fazendo esquecer um do outro, num necessário encontro tão traumático que é o ato sexual.

Os pais da atualidade adoecem seus filhos e os enviam para especialistas e para escolas para serem “reformados”. Ou, se quiserem, uma palavra mais adequada e menos agressiva: “retificados” em sua subjetividade. Eles querem terceirizar a educação de seus filhos para com isto se eximirem daquilo que seria da sua responsabilidade. Sempre preocupados com o futuro profissional dos filhos esquecem, por exemplo, a sexualidade latente num filho ou numa filha. Então, o que você apresenta a Problemas de Família, é o núcleo, a base, a razão causal de tantos e tantos sintomas que as crianças têm apresentado, que se evidenciam nas suas relações sociais: distúrbios de comportamento, bulimias e anorexias, insônias e depressões, dificuldade no aprendizado escolar, agressividade e passividade excedente, transgressões reiteradas que podem caminhar para posições perversas diante da lei, a assim chamada hiperatividade, compulsões e impulsões fora de qualquer controle e por aí vai. Estes distúrbios já chegam prontos, estruturados, dificultando qualquer intervenção.

Um pai que se inibe como homem frente à sua mulher, mãe de seus filhos, que não cuida, devidamente, dos anseios sexuais de uma mulher que vige sob os escombros de uma mãe, permitirá que filhos se façam deformar frente a um excesso de gozo materno, justo onde falha a presença efetiva de um pai, como um homem desejante. Veja bem: um pai funciona na triangulação com a mãe e o filho como fiel representante da lei simbólica, uma lei que interdita a relação incestuosa da mãe com o filho. Meu caro, por alguma razão particular você resiste neste ponto de interdição por onde os limites necessários seriam colocados.

O que é um pai? Pai não é nem o genitor nem o provedor. Menos ainda o educador. Um pai é pai no regime da função de separação da criança e sua mãe. O importante será saber como um pai se sustenta, como ele intervém nesta relação. Quando você insiste em ser um bom pai, por alguma razão particular que lhe é desconhecida, você resiste justo neste ponto de interdição por onde os limites necessários seriam colocados. Seu filho está disputando, com você, a mãe - diga-se, sua mulher, mãe de seu filho. Por que isto está acontecendo nesta intensidade? Você quer mesmo saber? Este filho é você! Trata-se de um desejo infantil que permaneceu adormecido em seu inconsciente, e que fora atualizado na relação de seu filho com a mãe dele. Esta que teria sido sua mulher, e não sua mãe.

Nesse sentido, vamos trilhar um difícil e tortuoso caminho para situar suas reais dificuldades no exercício da função paterna. Esqueça, por favor, esta história de querer ser um bom pai. Pai é pai, cada um se faz tecer em sua versão paterna. Trata-se, de todo modo, de um ponto que fundamenta o inconsciente de um sujeito particular. Pai é uma função inconsciente que recusa toda e qualquer abordagem consciente que advenha pela via do conhecimento. Por isso mesmo, é impossível ensinar alguém a ser pai, um bom pai. Você é médico, afeito ao discurso da ciência, talvez tenha dificuldades de entender isto: pai é uma função que nada tem a ver, por exemplo, com o genitor.

Como corrigir o erro que se constituiu na vida deste pai e que não diz respeito somente a ele, mas também a gerações anteriores? Alguém que se fez impregnar de uma crença de que poderia ser o pai que ele imaginava poder ser para seu filho, e que descarrilou e se estruturou pelo avesso? Porque você, na realidade, está mais para irmão mais velho de seu filho tão amado e tão querido. Veja meu caro jovem médico perdido em suas esperanças de ser um bom pai, escreva isto com letras sagradas: reafirmo que você está nesta estrutura familiar como irmão mais velho, bonzinho, carinhoso, que quer ser amado. Você foi buscar respostas lá fora, nos livros, nos especialistas, nos amigos, mas que sempre estiveram dentro de si mesmo. Quando o assunto é pai temos que tomar muito cuidado com os chamados “especialistas”. Ninguém poderá lhe ensinar como e de que maneira agir para que você mesmo possa se pautar como um bom pai. Novamente: nunca queira ser um bom pai, o pai. Ao querer ser um bom pai - diga-se, um pai exemplar - você erra! O erro deu-se de saída: você quis ser um bom pai e se esqueceu de si mesmo, de ser você mesmo. Nunca, em hipótese alguma, deixe de ser você mesmo.

Mas existem algumas coisas que podem vir a ajudá-lo. Isto se você realmente estiver disposto a um questionamento mais efetivo que possa operar, em sua vida, mudanças significativas. Mudanças reais, você me entende?

Qual caminho seguir? O que torna alguém pai? Há um dado positivo nisso que você apresenta em sua carta. Você teve a dignidade de se mostrar falho no exercício de sua função de pai, de tornar público este ponto que é tão importante na estrutura das famílias e que, certamente, são os fatores mais patogênicos que levam nossos filhos a adoecerem. Digo que se trata de uma atitude digna e corajosa de sua parte, porque este é realmente um sintoma da nossa atualidade de pais inseridos numa modernidade que não cessa de pedir por novos argumentos.

Certamente você está em crise e não é algo simples que se possa resolver com conselhos ou simples pontuações. E isso não é mal. A criança que te habita pede para falar. Mas posso lhe afirmar que este sofrimento que te atormenta é o que há de melhor na sua vida, é um pedido de escuta. Donde a necessidade da indicação de um longo tratamento analítico para que você possa redirecionar a função paterna, porque senão seu filho vai pagar por este sintoma que é o seu. Você nos apresenta, com muita clareza, a seguinte questão: a frouxidão de um pai em suas vertentes de lei paterna. Você revela, a céu aberto, um cenário que jaz adormecido sob os lençóis de muitos casais que se mantêm silenciados. Muitos pais, por razões particulares, permanecem surdos, mudos em relação a esta sintomática tão evidente, que denuncia a frouxidão de um pai. Pai frouxo, pai culpado com dificuldades de ocupar esta função simbólica tanto na relação de triangulação onde estão juntos pai, mãe e filho quanto numa relativa extensão social.

Por onde andam os pais? E vejam que esta pergunta se coloca justo num momento em que nunca se viu pais tão preocupados, pais tão presentes na vida dos filhos. Incoerência? Ou não seria mais apropriado e condizente perguntar: o que aconteceu com a autoridade paterna? O que mudou? De que sofre esta reluzente função que outrora imperava tranquilamente, apenas com um olhar, um pigarro, ou a voz de uma mãe dizendo: “eu vou contar pro seu pai”.

O que é um pai? Posso afirmar que não é somente você que se encontra perdido, à deriva, às escuras em relação a ocupar e exercer a função de pai. Realmente, quase todos os pais estão perdidos, se sentindo meio que sem lugar. Olhamos à nossa volta e vamos observar que, dia após dia, os pais encontram-se desalojados das insígnias que o demarcavam como o bicho papão. O que aconteceu com este homem todo poderoso? Por exemplo: o seu pai, o meu pai, os nossos pais? Os pais de antes, que respeitávamos tanto! Teriam sido eles melhores pais que os de hoje?

Por outro lado, eu te digo mais e com todas as letras, e isto não o exime de sua própria falta, de sua carência como pai: o lugar e a função que um pai ocupa na família, em suas formações familiares e sociais, é realmente algo cada vez mais difícil de ser ocupado. A autoridade paterna perdeu lugar para uma avassaladora responsabilidade paterna. Os pais de hoje estão em processo de desfazimento de sua virilidade frente a uma sociedade impregnada de um juridismo. Eles estão condenados como pais devedores, servis de seus deveres de pais. Os deveres amputaram os poderes paternos. Pai, então, torna-se sinônimo de dever para com o filho, verdadeiro refém dos caprichos subjetivos de um filho ou de uma filha. Leia sua frase, caro pai: você se encontra dependente de seu filho.

Como conseguir assumir, de fato e de direito, uma função paterna que é tão vital para um filho ou uma filha? Digo que a mãe coloca o filho no mundo, mas é um pai aquele que verdadeiramente dá vida ao filho, trata-se da função da palavra do pai. Não existe o pai, mas sim um pai. Veja seu engano como pai: você quis ser o pai, o melhor dos pais, um bom pai. Em todo caso, podemos dizer que você pode ocupar o lugar e exercer a função de pai. O pai é uma função simbólica à qual todos aqueles que ocupam este lugar estão, eles próprios, submetidos. Querer se apropriar desta função é introduzir um filho ou uma filha rumo ao adoecimento psíquico. Quando alguém quer ser verdadeiramente o pai, é uma desgraça para a criança. De entrada, diremos: o pai é uma função simbólica, nada mais que isto. Ao querer ser o melhor, erra-se. Deixa-te ser e ponto.

Vale ressaltar o caminho de retorno que deve ser realizado por você mesmo, jovem pai perdido na paternidade. Como está sua vida sexual com a tua mulher? Digo com a tua mulher, mãe de teu filho? Porque aqui reside o ponto crucial. Há sujeitos que se casam, têm filhos, e a vida sexual passa a ser um problema para o casal. Trata-se de um momento difícil de ser ultrapassado, pois são muitas as fantasias familiares que emergem tanto num quanto noutro. Há impedimentos e proibições psíquicas que os levam a buscar sexo fora de casa. Quando o casal esfria sexualmente, os filhos adoecem. Isto é de livro! O investimento libidinal dos pais migra para a criança. Por que um filho invade o quarto dos pais, a cama dos pais? Justamente porque a porta está aberta. A abertura da porta do quarto do casal é causa de distúrbios psíquicos nas crianças.



TERCEIRO CASO:

Tenho 32 anos de idade, sou mãe de uma menina de 6 anos e nunca me casei. Resolvi ter esta filha e criá-la sem pai. Durou uma noite. Ele é casado, colega de profissão, reside em outra cidade. Eu já o conhecia de alguns encontros de trabalho, e sempre soube que ele é casado, pai de dois filhos. Fiz de caso pensado: escolhi este homem para me dar esta menina.

Nunca esteve nos meus planos viver uma vida de casada com alguém. Sou bem sucedida na minha profissão, respeitada no que eu faço. Eu e minha filha formamos uma família, falamos a mesma língua, nos compreendemos bem. Vez por outra, saio com um ou outro homem, simplesmente para fazer sexo, nada mais que isto, ninguém fixo. Eu disse, eu e minha filha, nos bastamos uma para outra. Nunca tive boa relação com minha mãe, então procuro dar a melhor das mães para minha filha. Loucura ou não, é assim!
Em momento algum acreditei que ela necessitasse de um pai. Fui levando e bem. Agora, começaram os problemas: ela não quer se relacionar com ninguém, recusa de alimentação e baixo rendimento na escola. A coordenadora da escola me chamou para conversas e tocou nesta questão do pai. Ela conta para amiguinhas que o pai está viajando. É o que eu contava para ela, mesmo antes dela falar.

Penso que ela esteja se sentindo inferior em relação às suas amiguinhas pelo fato de não ter um pai. É possível? É necessário pai dentro de casa? Não sei se pai faz falta. Sempre achei que não, dava para ir levando. Estou começando a me convencer de que não é bem assim. Gostaria de orientação.

Adelaide Saraiva.

A falta que faz um pai!

Uma estrutura familiar não é sem um pai: um pai é necessário, ele realmente faz falta. Pai e mãe são funções distintas, cada um tem sua importância, um lugar específico na vida psíquica e emocional do filho e da filha.

Que falta faz um pai? Isso depende da mãe, do desejo materno. A mãe funda o pai, o reconhece, o inaugura; o desejo da mãe o legitima para seus filhos. Isto, logicamente, também vai depender das insígnias, das qualidades, dos atributos do pai. De todo modo, a coisa passa pela mãe, depende dela.

Você resolveu ter uma filha tão somente dentro de seus propósitos e de seus interesses. Não pensou em se casar, no sentido de estabelecer um projeto, no intuito de procriar. A questão é que filhos nascem de uma conjugação de desejos de um homem com uma mulher que se querem e se escolhem para construir um futuro. É o que se espera, é o que se observa na maioria dos casos, o que não quer dizer que não possa ser diferente. Você não se colocou outra opção a não ser esta: fazer uma filha e educá-la sem a presença efetiva de um pai. Esta filha carrega então o peso de um sentimento de inferioridade em relação às amiguinhas, ela não tem pai, sente-se menos, é claro!

Portanto, você nos afirma dentro de seu próprio engano: você deixou o pai de fora, você o tripudiou, brincou com ele e está sentindo na pele que isto não é uma coisa com a qual se possa brincar. Um pai, no mínimo, merece o respeito. Não se trata um pai desta maneira, tão desdenhosa, de um uso e abuso. É lógico, temos a outra parte: há aquele que se fez usar. Mas você, mãe desta menina em sofrimento, brincou uma brincadeira cara, amarga, com um custo muito alto.

A função paterna é algo da ordem do sagrado na estrutura da família, de uma família que se quer como tal, que quer filhos bons e bacanas, no encaminhamento de filhos possivelmente mais saudáveis, menos sofridos, nesta vida que não é fácil de ser vivida com dignidade.

Digo, e insisto, o seu movimento de ter uma filha foi tão somente a partir de seus caprichos neuróticos. Você, minha querida, deu a ver que seria só por uma noite, mas esqueceu-se que esta noite vale por uma vida. Pensou unicamente em si mesma, não quis saber de mais nada, pois em momento algum você pensou nela, na sua filha por vir, nas consequências sobre ela em seu futuro, o que poderia ou não acontecer com ela nesta triste aventura consigo mesma. É justo? Digo isto porque, parece-me, que você pensou tão somente no seu gozo, no seu umbigo, a partir de seu narcisismo.

Os distúrbios os quais sua filha está sofrendo - inibição, queda no rendimento escolar, anorexia, embotamento afetivo -, representa uma verdade que te habita e que, por alguma razão, você nunca se permitiu saber. Sua filha sofre os efeitos desta história silenciada que você carrega, não sem um alto custo. O sintoma desta filha é a resposta a estes desejos desencontrados que te habitam, como mãe, e que você carrega dentro de si e que se fizeram atualizar na origem desta menina. Poderíamos dizer, ao contrário do que diz, que você provocou a origem desta filha num ato, sem pensar. Mesmo que o diga que fez de caso pensado, acredito que não: você foi levada a se fazer engravidar sem pensar, a partir de seus fantasmas inconscientes, de elementos de sua historicidade.

O sofrimento que sua filha apresenta é um apelo, um pedido de ajuda dirigido ao pai. Ela pede um pai que você se recusou a dar a ela, e que lhe é de direito. Um pai que você surrupiou, trancafiou, impedindo-o de qualquer dom de legitimidade. Que se diga, um pai que você nunca deixou se aproximar desta filha, pois ele “está sempre viajando”, e não se sabe bem para onde e quando retorna, por isso mesmo ele nunca chega. Que pai é este que você passou para sua filha? Um pai, certamente, da sua própria história de vida.
Pobre filha, pobre menina! Mas, agora que ela pode pedir pelo pai, ela não deixa por menos. Graças a Deus! Ela pede forte, no corpo, ela implora, ela o quer, ela cobra, ela exige sua presença. Esta filha fala este pai ausente, mais que ausente, recusado, justo a partir da presença maciça de seus sintomas no corpo. A menina, que sofre na carne os desencontros da vida conturbada desta mãe, agora quer a verdade: chega, chega de enganos! Quero um mínimo de verdade! A menina, que sofre no seu corpo as mentiras de uma mãe, quer que a verdade seja dita, que seja falada. Ela quer saber deste pai. Onde ele anda, quando irá retornar. Pai, onde estás, porque não me escutas? Isso não é pedir demais, um pedaço de verdade que seja, sim, falada por esta mãe, que lhe seja dada voz, que seja colocada em palavras e nada mais!

Você me faz duas perguntas distintas que se encaminham para um mesmo ponto lógico: o que é um pai? Sua pergunta é pertinente, pois o pai pode não estar presente, ele pode faltar, sim! Mas o importante é que algo possa vir em seu lugar. Nada, nenhum namorado, nenhum outro para além dela, sua filha, que fala sua língua, a “mesma língua”. Veja bem, minha cara, os sintomas de sua filha a estão salvando de um mal bem maior, de doenças mais graves. Ela quer falar sua própria língua, uma outra língua, e o faz a partir de sua anorexia. Um signo, uma mensagem cifrada: decifra-me ou te devoro, eis a questão, mamãe querida.

Um pai pode vir a faltar como presença física. Mas sua função deve operar efetivamente a partir do desejo e da fala da mãe, o que não é o caso aqui. Mas alguma coisa mais forte que você mesma se impôs, barrou seu gozo avassalador em relação à sua filha e fez falar o sintoma no corpo desta menina. Veja bem, minha colega, que coisa interessante e que somente a psicanálise pode alcançar, somente ela pode afirmar: um pai sempre opera no regime de uma função, pois ele não é necessariamente o genitor. O provedor, o educador, isso por si só não o define, não basta para definir um pai. Nem mesmo o registro civil, isso é pouco! O que é um pai, não o pai, que não existe, mas sim um pai?

O que é um pai, verdadeiramente? Não é, necessariamente, aquele que participou do ato sexual, que condicionou a origem desta menina. Não! Não é só isso! Isso não basta para definir um pai no sentido das gerações. Um homem é um pai se você, enquanto uma mulher, o reconhecer como tal, como causa de seu desejo como mulher, aquele que barra seu gozo avassalador em relação à sua filha. Aquele que se coloca como um para além da criança, do filho, como único objeto de satisfação para uma mulher. Tudo, porém, irá depender de você reconhecê-lo, ou não, como agente de um desejo que está na origem do nascimento desta filha como representante da lei que interdita a relação incestuosa mãe-filha. É isto: somente você, como mãe desta menina, pode abrir portas para que este pai dê nome a ela. Ela pede por isto, por isto ela sofre.

É necessário um pai dentro de casa? Ele faz falta na educação e no desenvolvimento de um filho, de uma filha? É o que entendi, não é isto? É isto. Um pai sempre faz falta na estrutura de uma família. Aqui, em todos os sentidos, você me entende? O que não quer dizer que ele não possa faltar numa relação mãe-criança, não estar aí. Pode acontecer, por alguma contingência, que ele falte. Pode ser que, por uma separação prematura, uma morte ou uma carência, mesmo estando fisicamente presente, ele não opere como pai. Como também ele pode estar presente como pessoa e não funcionar como um pai, como uma função simbólica. Em todo caso, importa que a função paterna possa vigorar, pelo menos através do discurso materno, que a criança possa se autorizar em seu desejo, em sua língua própria, não é mesmo? Mas esta língua depende da conjugação de dois desejos para que seja suficiente para sustentar uma existência digna.

O fundamental é que possamos entender que a falta que um pai provoca ela estruturante na formação da cabeça da criança em seu desenvolvimento psíquico, que vai reger todos os passos futuros de um filho ou de uma filha. A presença ou ausência de um pai promove um tipo de falta que é muito específica, que retira a criança da condição de objeto de gozo materno. A falta que um pai inaugura no psiquismo da criança é condição única para que esta venha a desejar tornando-se sujeito do desejo, sujeito de direito. É quando, muito cedo, o olhar da mãe vai se dirigir para além da criança, e este mais-além, enigmático, para onde se dirige o desejo da mãe, salva a criança de todos os tipos de transtornos mentais. "Ah, então não sou tudo para esta mãe? Quer dizer que há algo para além de mim mesma? Para além do que ela me diz em relação ao que realmente ela deseja? Há outra coisa: um pai?" Sim! Este deslocamento é crucial para o desenvolvimento, no sentido do amadurecimento psíquico da criança, das escolhas por vir, de produção ou não de patologias, de sucessos ou fracassos, amorosos e profissionais.

Ela, a falta de um pai, é única! É a ética por excelência. Esta produz uma abertura para o desejo da criança. Sua ausência, como neste caso, pode produzir um buraco na vida subjetiva abrindo portas para uma patologia mais grave ainda, que se torna irrecuperável. Um pai é justamente aquele que salva a criança de uma invasão maciça do gozo materno. Ele cria condições de desvelamento dessa figura materna enquanto mulher. Os anseios e caprichos maternos se tornarão menos pesarosos sobre o filho ou a filha. Menos sufocante certamente.

A presença de um pai funda o universo simbólico de uma criança. Você, certamente, me entenderá. No caso desta menina, seu universo é a mãe: nada mais que isto! Esta menina, desde sempre, foi colocada numa posição de objeto do gozo doentio desta “mãe”, prestando um serviço de complemento de todas as faltas desta, por assim dizer. Como afirmou ela mesma, de caso pensado. Meu santo Deus, que raiva você tem da figura paterna! Você castrou o pai, nada mais que isto! Vamos agir para salvar sua filha. Urgentemente, pois você, ao desejar ser uma mãe idealizada, acabou errando e produzindo o pior: a anorexia de sua menina quer dizer isto: BASTA! Chega de tanto amor, chega de tanta invasão, não quero mais, mãe!

Se você, cara doutora - você me chamou de colega, não é mesmo? -, quer saber se sua filha vai adoecer psiquicamente pela falta do pai, eu te digo, com todas as letras: SIM! E muito! Ela já está dando sinais, e o vagão certamente irá descarrilar. Você está adoecendo sua filha, você a está sufocando, acabando com sua vida. Pelos simples caprichos da cabeça de uma mãe enferma, você atualizou um desejo doentio de ter sua mãe somente para si, não é mesmo?

Você pode ser excelente na sua profissão - temos casos assim, aos borbotões -, mas está sendo uma das piores mães que existe na face da terra! Péssima, egoísta, doente em seu querer narcisista! Pois você poderia ter oferecido para esta menina pelo menos um substituto de pai. Não! Você a tomou somente para si. Podemos dizer, sim, que você a tomou como objeto de seu gozo doentio. Isso é grave! Mas ela está reagindo, está colocando lei nesta história. É lógico, você mesma está despertando, abrindo as ruelas de seu inconsciente. O que você ofereceu a ela? Uma mentira, um pai que está viajando. Pai, quando você irá chegar? Ela, sua filha, é sábia. Ou, pelo menos, seu inconsciente: fez patologias como uma maneira de não se enlouquecer. Os sintomas são as formas distorcidas de chamar pelo pai, no lugar de um pai. Graças a Deus, minha colega, uma verdade quer falar, porque você não conseguiu ainda se dizer nesta história. Uma verdade quer falar através dos sofrimentos de sua filha. Diga a verdade para ela, solicite a paternidade, converse com o homem da sua escolha neste ato sexual, ainda há tempo. Fale com ele, ele irá assumir a paternidade da filha de vocês. Ela necessita conhecer este pai, você me entende, não é mesmo? Eu não disse: ela deveria conhecê-lo; eu disse: ELA NECESSITA! É necessário, não pode faltar, é obrigatório, é de direito, pois senão será um crime o que você estará realizando. Dê o pai que é o dela, pois você o está matando em vida. Não é justo, ela irá decidir no futuro o que fazer com este pai. Houve um erro, isso é humano. O importante é corrigirmos este erro por onde você procurou atualizar uma fantasia da criança que você teria sido, só, com sua mãe. Tomou sua filha como objeto de seu gozo narcísico, egoísta, recusando-se a dar a ela seu bem mais precioso: UM PAI! Um pai bom, um pai ruim, como saber? Não temos garantias, só saberemos depois. Tudo irá depender da modulação da estrutura do desejo de cada filho. A referência paterna dá sustentação de desejo para tanto para o filho quanto para a filha de maneira particular. O pai, quando funciona barrando os caprichos da mãe, cria condições de liberdade para os filhos.

No seu caso com sua filha - aqui, caso mesmo -, você precisa agir rápido. Você e sua filha se beneficiariam muito com uma psicanálise pessoal. Mas corra, corra mesmo, e encontre o pai desta sua filha!



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José Nazar. Médico Psiquiatra e Psicanalista. Especialização e Mestrado (Universidade do Brasil – UFRJ). Psicanalista Membro da Escola Lacaniana de Psicanálise Brasília, Rio de Janeiro e Vitória. Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação Psiquiátrica do Espírito Santo. Membro da Associação Médica do Espírito Santo (AMES). Editor Chefe da Companhia de Freud Editora. Autor do livro: Amor de Mãe.
Email para: problemasdefamilia@seculodiario.com

FONTE: http://www.seculodiario.com.br

O terceiro caso evidencia a falta que faz um pai numa família. Então, e a mãe? Será que ela faz falta?
É que, embora concordando com a resposta dada a esta mãe -que, apesar de tudo, assume que possa ter errado na sua decisão- a mesma questão se põe a todo o homem que contrata uma barriga de aluguer, a fim de poder criar os filhos sem a presença de uma mãe! O que dizer a esses senhores?

Valdomiro Carezia
Família e Vida
Ex-professor e Auditor Fiscal Aposentado, possui Curso de Teologia para leigos. É colaborador no jornal "A Federação" de Itu.

Mãe faz falta!
Publicado: Sexta-feira, 9 de maio de 2008


Mãe sabe tudo, tudo do amor, tudo da vida, tudo do lar...
Mãe é presença, presente de Deus...
Mãe é ação, decisão; é paciência, compreensão...
Mãe é coragem, sexo forte...
Mãe é do pai e é dos filhos...
Mãe sabe ser, sabe dizer, sabe calar... sabe ir, sabe ficar... sabe rir, sabe chorar...
Mãe tem faro, ouvido, sensibilidade...
Mãe tem instinto, intuição, sabedoria...
Mãe tem sempre razão...
E coração? Tem, grande e poderoso...
Sensível, frágil, que se quebra,
Mas que logo se refaz porque é forte.
Mãe, atenção mais atenta,
Olhos ligeiros. Ouvidos abertos. Espertos...
Mãos dedicadas, calejadas. Colo macio e disposto. Mãe tem tudo isso e muito mais.
Sorriso no rosto, apesar do cansaço e até do desprezo.
Mãe espera, insiste.
Mãe torce, aplaude.
Mãe ensina, cobra.
Sabe sofrer calada, sabe chorar sem ser notada.
Mãe proíbe e desagrada às vezes...
Mas sabe ninar como ninguém, sabe contar histórias, sabe do que seus amores gostam...
Mãe é a felicidade dos filhos...
Mãe é mãe e pronto!
E faz falta, muita falta!

* * * * *
A verdade é que mãe é insubstituível... Mãe lembra família, uma instituição sem similar. Podemos dizer que a mãe faz falta porque não pode haver família sem mãe, ela é o seu eixo de sustentação, sua espinha dorsal, sem querer, com isso, achar que pai não é importante e também fundamental, só que o “ninho doméstico” inclina-se naturalmente para a mãe.
Ela é capaz de transformar sofrimentos e dificuldades em alegria e felicidade. A mãe luta para que seu lar seja um paraíso. Mas sofre porque precisa vencer inúmeras batalhas e dificuldades; sofre porque não é onipotente e são muitas as situações onde lhe faltam forças e, não raramente o apoio necessário; sofre porque sua luta é contínua, faltando, muitas vezes, até o tempo para o merecido descanso. Sofre, mas consegue transformar tudo isso em alegria de cumprir sua missão, de desempenhar o seu grande papel. Resiste a tudo, tudo enfrenta, tudo supera, porque tem um coração diferente, cheio de um amor diferente..., o mais próximo de Deus.
Mãe é alguém que nasceu não só para gerar a vida, mas para cuidar dela. Faz isso como ninguém! Para Bosco Aguirre, professor espanhol, “As mulheres são insuperáveis em sua relação com cada um dos filhos. Falar de maternidade é falar de um privilégio da mulher.”
A vida moderna facilitou a vida em muitos aspectos, mas a nossa sociedade abandonou os valores humanos, e o papel de mãe, infelizmente, foi muito afetado. Hoje a mulher que deseja ser mãe enfrenta novos obstáculos...

FONTE: http://www.itu.com.br/colunistas/artigo.asp?cod_conteudo=13732





Sinopse de AMOR DE MÃE, de José Nazar:
Não se deve duvidar do amor de mãe. Por isso mesmo não sentimos necessidade alguma de questionar seu amor. É como se a mãe ocupasse o lugar de um amor eterno. Estamos sempre certos e seguros em relação a seu amor, seu perdão e, por sua compreensão. Não é a mesma coisa com o pai. Nem sempre estamos tão garantidos do amor do pai, mesmo porque o que ele quer dos filhos não é tanto o amor, mas o respeito. O pai é esta função simbólica – não necessariamente o pai será o pai biológico – que interdita a relação toda amorosa mãe e filhos.

O que quer uma mãe? Uma mãe quer duas coisas em sua vida. Primeiro, que seja preservado, a qualquer custo seu amor e seus cuidados por seu filho. Segundo, que seja traduzida como mulher por seu parceiro e que, de preferência, este seja o pai de seu filho. Também quer algo: que seu homem crie condições verdadeiras para que sua relação com o filho se inscreva na história como um amor imbatível.

RECUSO-ME A SER BARRIGA DE ALUGUER!!!!!!!!!!!!!


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