sábado, 13 de novembro de 2010

TODOS OS HOMENS PENSAM NA SUA MÃE

Acabo de saber hoje, dia 14, que o Afonso, esse menino de que vos falei há dias,admirando a força e a coragem dos pais, não resistiu. Partiu no dia 3.
Eu tinha trazido antes este poema de Fernando Pessoa (já o tinha colocado aqui, embora tenha iniciado o post ontem, dia 13), que passa a ser dedicado a este menino, e a todos os outros anjinhos. Um abraço para todos os pais e para todas as mães que passaram por essa experiência. Tivesse eu um pouco da sua força e da sua coragem, pois não é fácil para nenhum pai (muito menos para uma mãe) ver um filho seu partir assim!

Parecem coisas de coincidência, mas eu falei do menino precisamente no dia em que veio a falecer, no meu post O MEU NOME É SARA! Eu não o sabia...

Os meus pêsamos aos seus pais, Graça e André Couto. O meu pensamento está convosco.


O MENINO DE SUA MÃE

No plaino abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas traspassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

FERNANDO PESSOA





Reflexão:

Este poema foi escrito para poder ser visto de modo metafórico, a representação do próprio poeta que sabe ser impossível o regresso ao ventre materno, porque a infância ficou para trás, inevitavelmente perdida, ideia que pode relacionar-se com a temática pessoana “a nostalgia da infância” – a época de ouro, da felicidade inconsciente, para sempre perdida, que contrasta com a situação presente caracterizada por consciência aguda que provoca no poeta a sensação de desconhecimento de si mesmo, a perda de identidade.

O sujeito poético neste poema fala também da cigarreira dada pela sua mãe e o lenço dado pela alma que o ajudou a criar, são representações do seu passado de “menino” que viveu junto a quem o amava.









Facto é que, em momentos de dificuldade ou perante a morte, nos vem sempre a imagem da mãe, ou de quem nos criou:




"(...)

Quando estamos em dificuldades, todos, homens ou mulheres, sempre pensamos em nossa mãe, pelo menos na Índia. Havendo um problema, pensamos na mãe. Quando estamos doentes ou em apuros, dizemos: “Amma!” Não importa a idade. O homem chama pela sua mãe, mesmo aos 80 anos, não pela esposa, nem pelos amigos, infelizmente nem mesmo pelo seu pai. Porque os pais geralmente estão ocupados com suas próprias ambições, com suas próprias existências, com a construção de seus próprios impérios, com nações para governar, tantas coisas – seus egos. Mas as mães, essas pobres criaturas, sempre dedicadas, muitas vezes não são nada. Na Índia, a mãe freqüentemente é analfabeta, no entanto ela é a síntese de tudo que é gentil, de tudo que é amor e, de certo modo, é a fonte do nosso bem-estar.

Eu li um livro sobre o grande mestre de sitar, Amjad Ali Khan, no qual ele diz: “A voz da minha mãe foi a primeira música que ouvi.” É verdade: para um músico, é a primeira música que ele ouve. Para o apaixonado, são as primeiras palavras de amor. Para alguém que busca Deus, são as primeiras palavras do Guru. Eu acredito que só existem duas vozes às quais devemos dar ouvidos: à voz da mãe que diz: “Meu filho (ou minha filha) seja afetuoso, gentil, compassivo, misericordioso, compreensivo.” Mas quando somos jovens, tentamos imitar o machismo do pai – seu orgulho, sua arrogância, sua cobiça, sua necessidade de construir, de presidir, de governar – todas as nuanças da ação do ego.

(...)"

FONTE: http://www.srcm.org/language/portuguese/pn_9.html


Ora aí está porque eu digo sempre que, mesmo que se corte o cordão umbilical, ele permanece para a vida!





Alain Souchon conta que numa dada altura em que fazia esqui com o irmão, tinha ele já 30 anos, teve um acidente e pensou que ia morrer. Nesse momento só lhe veio uma palavra à boca: "MAMAN!" (ver o primeiro vídeo).

Felizmente foi um acidente sem grande importância, mas ele recordou-se desse momento, e compôs "Allô maman bobo!" (ponho-vos aqui a letra e a música na sua íntegra no 2º vídeo).

ALLÔ MAMAN, BOBO!

J'march' tout seul le long d'la lign' de ch'min d'fer
Dans ma tête y a pas d'affair'
J'donne des coups d'pied dans un' ptit' boîte en fer
Dans ma tête y a rien à faire
J'suis mal en campagn' et mal en vill'
Peut-être un p'tit peu trop fragil'

[Refrain]
Allô Maman bobo
Maman comment tu m'as fait j'suis pas beau
Allô Maman bobo
Allô Maman bobo

J'train'fumée, j'me r'trouv' avec mal au cour
J'ai vomi tout mon quatre heur'
Fêt', nuits foll's, avec les gens qu'ont du bol
Maint'nant qu'j'fais du music hall
J'suis mal à la scène et j'suis mal en vill'
Peut-être un p'tit peu trop fragil'

[Refrain]

Moi j'voulais les sorties d'port à la voil'
La nuit barrer les étoil's
Moi les ch'vaux, l'révolver et l'chapeau d'clown
La bell' Peggy du saloon
J'suis mal en homme dur
Et mal en p'tit coeur
Peut-être un p'tit peu trop rêveur

[Refrain]

J'march' tout seul le long d'la lign' de ch'min d'fer
Dans ma tête y a pas d'affair'
J'donne des coups d'pied dans un' ptit' boîte en fer
Dans ma tête y a rien à faire
J'suis mal en campagn' et mal en vill'
Peut-être un p'tit peu trop fragil'




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RECUSO-ME A SER BARRIGA DE ALUGUER!!!!!!!!!!!!!


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